quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Como gota na imensidão do rio

Escrito por Christina Streva

Final de turnê. Última folga antes da apresentação em Candeias do Jamari. De lá, voltamos direto para casa. Foram 10.000 rodados, 11 cidades, 7 estados, 4 oficinas, 36 dias, montagens e desmontagens, deslocamentos, euforia, cantoria, cansaço, silêncio, alegria, encontros, trocas, tensões, tesões, harmonia. Aos poucos, a leveza vai invadindo o ambiente novamente. O grupo, que andava exausto e estressado por causa do atraso do cenário e de uma série de imprevistos burocráticos, agora, está calmo e harmonizado. A sensação de dever cumprido já se mistura a uma mansa melancolia. Sentimento de realização, de construção e de contribuição para algo precioso. O que, exatamente? Difícil explicar e quase impossível mensurar. Algo sutil e misterioso, praticamente imperceptível como as pequenas gotas d´água na imensidão e na abundância dos rios amazônicos. Mas algo que se revela em momentos preciosos - como no sorriso da criança que corre para os nossos braços no final da peça; nos indígenas que, inicialmente desconfiados, entrelaçam suas mãos às nossas para dançarem conosco a ciranda final; no brilho dos olhos jovens dos estudantes quando nos dizem nas oficinas que nos tornamos uma inspiração para eles; na risada alta e gostosa do pipoqueiro que, ao nos ver guardar o material após o espetáculo, diz: “puxa vida! Mas só gostando muito do que se faz para carregar esse peso todo e enfrentar tanta estrada, não é não?”13 artistas, alguns agregados e muitas imperfeições. Cada qual lidando com suas próprias dificuldades, sua própria solidão. Por entre esse Brasil imenso, também tão imperfeito e desigual. 13 pessoas que encontram algo que vale a pena fazer. Que torna a vida melhor, mais suportável, mais criativa. Que nos garante um sentido de existência. E que também exige muito de nós. Compreensão, alteridade, flexibilidade. Acima de tudo, nos exige o tempo todo que nos tornemos indivíduos melhores. E o teatro! Com seu poder inigualável de promover encontros, de desarmar as pessoas, de aproximar, emocionar e afetar. A nós mesmos e a muitos que cruzam nosso caminho. No meio disso tudo, a eterna apreensão com relação ao futuro. Alguém terá visto? Alguém se importa? Alguém percebe ou sente assim como nós? E, agora, o que virá? Já sabemos. Recomeçaremos do zero, esperando, torcendo, criando estratégias, inventando meios, cavando oportunidades para que, de alguma forma, o Ser Tão possa continuar. 
Até a próxima!

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