Escrito por Rafael Guedes
Candeias do Jamari
Penúltimo dia da turnê Flor no Norte (dependendo do
ponto de vista, alguns ainda ficarão 4 dias dentro do ônibus de volta pra casa...).
Fomos conhecer a cidade de Candeias do Jamari, localidade a cerca de 30 minutos
de Porto Velho. Chegando à cidade, tudo tranquilo, véspera de aniversário da
cidade. Fomos direto ao rio Candeias, onde demos de cara com um belo cenário.
Um local calmo, bonito e com a energia necessária para o momento de fechar um
ciclo e voltar pra casa. Também almoçamos por lá, um belo peixe preparado pela
tia da barraca na beira do rio, onde também havia uma Jukebox, que embalou o
dia com todo tipo de música. Depois desse dia, tivemos mais um dia pra
organizar as coisas no hotel e nos prepararmos para a apresentação.
Chegou o momento, uma mistura de sensações: última
apresentação da turnê, voltando pra casa, vou ficar com saudade dessa viagem, e
uma puta sensação de que realizamos com resultados maravilhosos essa turnê na
Região Norte. Pra minha surpresa, em pleno aniversário de 22 anos da cidade,
ela se encontrava pacata, sem grandes comemorações, as pessoas dentro de casa,
algumas pelas lanchonetes... e o meu pensamento era: “nada, já já chega a
galera aí!” Como o teatro de rua é novo em minha vida (apenas 2 anos de prática),
acredito ser necessário vivenciar as milhares de situações que ele nos
proporciona. Foi uma plateia de 80
a 100 pessoas, pode-se dizer a menor da turnê. Mas ali,
apesar de todo o cansaço, da ansiedade de voltar pra casa, me dei conta mais
uma vez da magia do teatro de rua. Não importava se estavam ali 80 pessoas ou 800, a história iria ser
contada, a minha vida iria ser modificada.
Apenas poucos minutos de peça e Rebeca – a
cachorrinha que defendeu Catirina e Mateus do Bicheiro e seus comparsas – entra
em cena; tinha também um senhor que sentou à frente, feliz da vida com o nosso
trabalho, e com os olhos cheios de lágrimas pediu para tirar uma foto e nos
falou um pouco de sua vida ao final de tudo. E teve o garoto que veio pedir
desculpas por sua cachorra ter entrado em cena, e aquele povo todo dando risadas
durante o espetáculo.
Percebo que o Brasil é um “mundão”, injusto com seu
povo. Que o Ser Tão Teatro realiza algo verdadeiro, e sai do eixo –
descentralizando e levando cultura e arte pra lugares longíquos. Trocando com
muitos que são esquecidos ou deixados de lado por acomodação de tantos. O
Brasil é cheio de gente “Top” que, de tão top, só transparece arrogância e
prepotência. Infelizmente... Fico com o dia 13 de fevereiro em minha alma,
buscando os ensinamentos que esta vivência quis me passar. É preciso coragem,
força e muito amor no dia-a-dia – o Norte me mostrou isso. E Candeias do Jamari
me disse muito mais, com todo o seu silêncio. Que privilegiado eu sou! Entrar
nesses desafios do Ser Tão Teatro, trocando com as pessoas por onde passamos,
buscando fazer o nosso melhor. Ter a satisfação em saber que de algum modo podemos
“mudar” um dia que seja dessas comunidades.
O teatro tem muito a me ensinar, ao teatro muito
ainda tenho a dar...