Escrito por Christina Streva
Final de turnê. Última folga antes da apresentação em Candeias do Jamari. De lá, voltamos direto para casa. Foram 10.000 rodados, 11 cidades, 7 estados, 4 oficinas, 36 dias, montagens e desmontagens, deslocamentos, euforia, cantoria, cansaço, silêncio, alegria, encontros, trocas, tensões, tesões, harmonia. Aos poucos, a leveza vai invadindo o ambiente novamente. O grupo, que andava exausto e estressado por causa do atraso do cenário e de uma série de imprevistos burocráticos, agora, está calmo e harmonizado. A sensação de dever cumprido já se mistura a uma mansa melancolia. Sentimento de realização, de construção e de contribuição para algo precioso. O que, exatamente? Difícil explicar e quase impossível mensurar. Algo sutil e misterioso, praticamente imperceptível como as pequenas gotas d´água na imensidão e na abundância dos rios amazônicos. Mas algo que se revela em momentos preciosos - como no sorriso da criança que corre para os nossos braços no final da peça; nos indígenas que, inicialmente desconfiados, entrelaçam suas mãos às nossas para dançarem conosco a ciranda final; no brilho dos olhos jovens dos estudantes quando nos dizem nas oficinas que nos tornamos uma inspiração para eles; na risada alta e gostosa do pipoqueiro que, ao nos ver guardar o material após o espetáculo, diz: “puxa vida! Mas só gostando muito do que se faz para carregar esse peso todo e enfrentar tanta estrada, não é não?”13 artistas, alguns agregados e muitas imperfeições. Cada qual lidando com suas próprias dificuldades, sua própria solidão. Por entre esse Brasil imenso, também tão imperfeito e desigual. 13 pessoas que encontram algo que vale a pena fazer. Que torna a vida melhor, mais suportável, mais criativa. Que nos garante um sentido de existência. E que também exige muito de nós. Compreensão, alteridade, flexibilidade. Acima de tudo, nos exige o tempo todo que nos tornemos indivíduos melhores. E o teatro! Com seu poder inigualável de promover encontros, de desarmar as pessoas, de aproximar, emocionar e afetar. A nós mesmos e a muitos que cruzam nosso caminho. No meio disso tudo, a eterna apreensão com relação ao futuro. Alguém terá visto? Alguém se importa? Alguém percebe ou sente assim como nós? E, agora, o que virá? Já sabemos. Recomeçaremos do zero, esperando, torcendo, criando estratégias, inventando meios, cavando oportunidades para que, de alguma forma, o Ser Tão possa continuar.
Até a próxima!
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