Sitiando Xiquexique!!!

Por Christina Streva

Emocionante a estada em Xique-Xique. A pequena cidade ribeirinha do interior da Bahia é a mais carente das cidades que visitamos até agora. Teatro? Uma palavra pouco pronunciada por essas bandas. Uma única avenida central com alguns quiosques e muitos jovens andando de um lado para o outro, sem absolutamente nada para fazer a não ser beber e conversar.

Um sol escaldante não nos deixa esquecer nem por um instante de que estamos em pleno sertão nordestino. Difícil encontrar um lugar para comer. Surpreendentemente, um belo parque aquático à beira do Velho Chico é o grande cartão postal da cidade, porém o local é afastado e pouco visitado pelos moradores.

Inicialmente, a apresentação estava prevista para acontecer exatamente neste local, mas logo que chegamos percebemos que não fazia o menor sentido apresentarmos lá. Distante e elitizado. Todo o movimento de preparação e montagem do cenário que ocorre ao longo do dia e que vai chamando público, naquele local distante não atingiria justamente as pessoas que mais queremos instigar.

Mudança de local. Faríamos a peça em plena avenida central, interditando a rua. Decisão tomada, logística disparada. Moto táxi para um lado, moto táxi para o outro, um vai para a secretaria conseguir autorização para mudança, outro correr atrás do ponto de luz, outro das cadeiras. Um grupo vai ministrar a oficina, outro vai para as rádios, um solta o carro de som, outro cola cartazes, alguns panfletam.

Enfim, o mesmo corre-corre de sempre. Todos os dias, eu me surpreendo com o amadurecimento do grupo. Xique Xique é a trigésima terceira cidade que o SerTão visita ao longo dos últimos 12 meses e a sexta cidade desta turnê. Hoje em dia, o grupo todo já sabe o que fazer. Ninguém fica parado. Cada um tem a sua função e sabe exercê-la muito bem.

Em 24 horas, a cidade é sitiada! Entrevistas em todas as rádios, carro de som, panfletos, cartazes, boca a boca. Tudo filmado e fotografado pelas lentes atentas de Luis e Anderson. E assim seguimos! Sinto um profundo orgulho de vivenciar o amadurecimento da trupe. Há poucos anos, tudo era tão novo, tão difícil. E agora, apesar do trabalho continuar sendo duro, o grupo funciona como uma grande máquina coletiva, impressionantemente organizada e profissional. Bingo!

Às duas e meia da tarde, estava tudo pronto para iniciarmos. E começa a montagem. 18:30 o público começa a chegar e daí em diante vai chegando, e chegando, e chegando e não pára mais de chegar. E era gente com força!!!! Segundo as diversas estimativas da nossa equipe, tínhamos entre 1500 e 2000 pessoas na avenida central, se espremendo, subindo em postes, bancadas, cadeiras e tudo mais que aparecesse pela frente para assistir ao espetáculo.

Muitas e muitas crianças ocupando cada espaço possível. Adultos, idosos, os alunos da oficina. Duas freiras logo na primeira fila. Gente de todos os tipos e idades. Prometi a mim mesma que usaremos microfones nos atores nas próximas turnês. Tanta gente, mas tanta gente, e todos tão ansiosos!
O espetáculo correu bem, como vem acontecendo sempre.

O grupo já pegou o ritmo e a peça vem crescendo. Claro que com tanta gente assim, os atores tiveram que se esgoelar para dar conta. Isadora disse que na cena que sobe na plataforma, quase cai lá de cima de susto com a quantidade de gente que viu amontoada. E 54 minutos depois, logo ao término do espetáculo, é a vez de Xique Xique sitiar o SerTão Teatro.

Somos literalmente engolidos por todas aquelas pessoas que se aproximam, nos abraçam, tiram fotos, pedem autógrafos, disputam loucamente os programas que vão sendo distribuídos... Debate lotado. Perguntas, muitas perguntas. Curiosidade e encantamento. Emocionante.

Todos queriam nos tocar, abraçar, saber quando o grupo voltaria. Impossível não ficar tocado por tamanha receptividade, por tantos abraços emocionados, por tantas declarações sinceras. Xique Xique, retrato do nosso país, de um Brasil ainda tão esquecido, tão carente, com uma profunda sede de arte, cultura e investimento! E ali na praça, publicamente, prometemos retornar um dia.