“O que está longe de mim é pré-claro ou
escuro?”
Manoel
de Barros
Postado por Zé Guilherme
Hoje é dia de apresentação e já
acordo concentrando minha energia para o espetáculo. O lugar é maravilhoso. Uma fortaleza erguida pelos portugueses no
processo do encobrimento. Um projeto arquitetônico na forma de uma estrela de
quatro pontas com um gramado ao centro.
É impressionante a qualidade da acústica dessa obra. Logo cedo, às 10:00 da manhã,
Tiago checa a luz que já está sendo montada.
Zé Hilton e Samara cuidam de todos os detalhes da produção. Às 15:00
horas, inicia-se a montagem do palco, sob responsabilidade de Galego e sua
equipe com Rafael, Thardelly e Thiago.
Tudo sendo registrado em áudio e vídeo pelo Arthur. Quando luz e palco estão prontos, Fromiga monta e checa o equipamento de som, e eu cuido dos instrumentos de
percussão. Há horas, Isadora está
arrumando cada detalhe dos figurinos dos oito personagens que irão entrar em
cena, e Polly dando a geral e organizando os adereços. A diretora Christina
chega anunciando em voz alta as horas e cobrando o que e o porque algo ainda
não está pronto, afinal esse é o trabalho de quem está na coordenação das
coisas. “Às seis horas, eu quero ver
todo mundo maquiado para alongar, aquecer a voz, passar o repertório e esperar
o momento de entrar” – fala enquanto bate as palmas das mãos.
Finalmente é chegada a hora. Fazemos um pequeno cortejo e adentramos no
mergulhão, uma espécie de peleja ou desafio, semelhante aos desafios dos
violeiros com o gestual corpóreo encontrado em diversas danças e, no nosso
caso, apropriado da pesquisa do cavalo marinho presente na tradição da Parahyba
e de Pernambuco, como já dizia, com licença poética, o Mestre Gasosa de
Bayeux.
Quando encerramos o mergulhão aquele silêncio tumular toma
conta da Fortaleza de São José de Macapá.
Nós, na coxia, acostumados a alguma reação do público, ficamos ali por
alguns longos e preciosos instantes que temos para respirar. Penso: o que se
passa na cabeça e como reage cada um de nós de encontro com o “novo”? “É um, é dois, é....!!!” Atacamos de frevo com seu ritmo
seguro e frenético e com fraseados que sempre empurram a melodia para frente,
ou para trás, ocasionando alguns trancos para despertar os desavisados. A música é a única arte que lhe pega por
trás.
Final do primeiro ato, o espetáculo vai crescendo e vagarosamente
conquistando o corpo pela música e a mente pela palavra, auxiliado pelo luxo
daquela acústica perfeita da Fortaleza de São José do Macapá.
Para alguns do Ser Tão, o
espetáculo não saiu perfeito, daquele jeito que a diretora gosta, mas o que é o
perfeito, se depositei toda a minha vida ali naquele momento com os
demais? Eureca? A perfeição de que
falamos é isso? É todas às vezes repetir
no tempo e no espaço aquilo que está escrito na partitura ou no texto? Eu me pergunto se isso é possível. Banhar-se nas águas do mesmo rio duas vezes. Enquanto isso, finalizamos a peça com técnica,
como os participantes da oficina puderam comprovar, e com muita energia, porque
isso nossa diretora não pode negar.
Um beijo no coração do povo do Amapá!
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