sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tema ao povo Tucuju

“O que está longe de mim é pré-claro ou escuro?”
                                                                              Manoel de Barros

         Postado por Zé Guilherme



Hoje é dia de apresentação e já acordo concentrando minha energia para o espetáculo. O lugar é maravilhoso.  Uma fortaleza erguida pelos portugueses no processo do encobrimento. Um projeto arquitetônico na forma de uma estrela de quatro pontas com um gramado ao centro.  É impressionante a qualidade da acústica dessa obra. Logo cedo, às 10:00 da manhã, Tiago checa a luz que já está sendo montada.  Zé Hilton e Samara cuidam de todos os detalhes da produção. Às 15:00 horas, inicia-se a montagem do palco, sob responsabilidade de Galego e sua equipe com Rafael, Thardelly e Thiago.  Tudo sendo registrado em áudio e vídeo pelo Arthur.  Quando luz e palco estão prontos, Fromiga monta e checa o equipamento de som, e eu cuido dos instrumentos de percussão.   Há horas, Isadora está arrumando cada detalhe dos figurinos dos oito personagens que irão entrar em cena, e Polly dando a geral e organizando os adereços. A diretora Christina chega anunciando em voz alta as horas e cobrando o que e o porque algo ainda não está pronto, afinal esse é o trabalho de quem está na coordenação das coisas.  “Às seis horas, eu quero ver todo mundo maquiado para alongar, aquecer a voz, passar o repertório e esperar o momento de entrar” – fala enquanto bate as palmas das mãos.
Finalmente é chegada a hora.  Fazemos um pequeno cortejo e adentramos no mergulhão, uma espécie de peleja ou desafio, semelhante aos desafios dos violeiros com o gestual corpóreo encontrado em diversas danças e, no nosso caso, apropriado da pesquisa do cavalo marinho presente na tradição da Parahyba e de Pernambuco, como já dizia, com licença poética, o Mestre Gasosa de Bayeux. 
Quando encerramos o mergulhão aquele silêncio tumular toma conta da Fortaleza de São José de Macapá.  Nós, na coxia, acostumados a alguma reação do público, ficamos ali por alguns longos e preciosos instantes que temos para respirar. Penso: o que se passa na cabeça e como reage cada um de nós de encontro com o “novo”? “É um, é dois, é....!!!” Atacamos de frevo com seu ritmo seguro e frenético e com fraseados que sempre empurram a melodia para frente, ou para trás, ocasionando alguns trancos para despertar os desavisados.  A música é a única arte que lhe pega por trás.
Final do primeiro ato, o espetáculo vai crescendo e vagarosamente conquistando o corpo pela música e a mente pela palavra, auxiliado pelo luxo daquela acústica perfeita da Fortaleza de São José do Macapá. 
Para alguns do Ser Tão, o espetáculo não saiu perfeito, daquele jeito que a diretora gosta, mas o que é o perfeito,  se depositei  toda a minha vida ali naquele momento com os demais?  Eureca? A perfeição de que falamos é isso?  É todas às vezes repetir no tempo e no espaço aquilo que está escrito na partitura ou no texto?  Eu me pergunto se isso é possível.  Banhar-se nas águas do mesmo rio duas vezes.  Enquanto isso, finalizamos a peça com técnica, como os participantes da oficina puderam comprovar, e com muita energia, porque isso nossa diretora não pode negar.
Um beijo no coração do povo do Amapá!

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